19 de abril de 2012

VERA DE VIVES NO PAINEL DA SAUDADE DA ANL

A CRONISTA VERA DE VIVES NO PAINEL DA SAUDADE
NA
ACADEMIA NITEROIENSE DE LETRAS




Aconteceu no dia 18 de abril de 2012, às 17 horas,  na Academia Niteroiense de Letras o Painel da Saudade em louvor à memória de Vera de Vives, e o orador  oficial foi escritor Sávio Soares de Sousa, que magistralmente nos fez viajar através do tempo, e reviver momentos primorosos da célebre cronista e escritora fluminense. Na oportunidade foi colocada a foto de Vera de Vives na parede junto aos outros imortais. O portal Focus esteve presente e trouxe as imagens. Confira.



Márcia Pessanha - Presidente da ANL
fez a abertura do evento

Carlos Mônaco, Márcia Pessanha, Dr. Jorge Loretti 
Mariana de Vives (neta da Vera de Vives)
e Jorge Sirito de Vives (esposo)

Luiz Calheiros - o escritor de JOGO DA VIDA 
(primeiro plano)
Bruno Pessanha(segundo plano)

Jorge Sirito de Vives (esposo de Vera de Vives)
e sua neta Mariana de Vives
momento em que foi colocada a foto da Acadêmica imortal
Vera de Vives na parede, junto aos outros confrades.

Vera de Vives
foto junto aos outros imortais da ANL

VERA DE VIVES foi uma cronista, ensaísta, escritora, folclorista, nasceu em Botafogo no Rio de Janeiro, em 20 de junho de 1925.  Filha da professora Olga Bouchaud Lopes da Cruz. Fez os estudos primários No Colégio Santo Amaro de irmãos beneditinos  e os secundários no Colégio Sion de freiras francesas. Aos 17 anos ingressou no Curso de Letras Neolatinas da Faculdade de Filosofia da PUC-RJ, e aos 21 na Faculdade de Direito da mesma universidade. No jornal O Mundo teve aos 22 anos sua primeira experiência no jornalismo assinando coluna sobre alunos jurídicos. Casada com Jorge Sinito de Vives que é arquiteto, com ele viajou para a França, onde graças a uma bolsa de estudos concedida pelo Governo francês como prêmio pelo primeiro lugar obtido em prova realizada pela embaixada daquele país, frequentou a Sorbonne, concluindo o curso de língua e literatura francesa destinada a professores de francês no estrangeiro.
Após o nascimento de suas filhas, a hoje médica Dra. Miriam Sinito de Vives, e Ana Elisa, hoje é doutora em Física pela USP, dedicou-se a elas e ao lar por alguns anos. Nesse período prestou concurso para Assistente Jurídico do BNDES, tendo sido classificada em 14º lugar. Mas não assumiu o cargo por entender que as filhas, pequenas, precisavam dela.
Durante esses anos escreveu para Rádio MEC histórias infantil, radiofonizadas em programas dirigidos por Geny Marcondes. Delas se originou o livro Histórias que o vento escreve publicado pela Editora do Brasil (SP), em 1954. Em 1958, a Editora Vozes escolheu para a Coleção Feliz Idade, dois textos de sua autoria – A planta d’ Água e O dia do Arco-íris. Também em 1958 ingressou no magistério, regendo turmas de francês no Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, até 1975. Entre 1961 e 1975, lecionou português e francês no Col. Pedro II e foi nomeada para o Conselho de Cultura do RJ. Para voltar ao jornalismo, publicou coluna semanal em O Itaboraiense (1961-62). Neste último ano iniciou colaboração em O Fluminense, a convite de Alberto Francisco Torres.
Como cronista diária, criou o “Diário sem data”. Nos textos que essa coluna veiculava pôde expressar, com plena liberdade quanto aos temas escolhidos, sua ligação com o mundo e o cotidiano, prerrogativa que lhe foi assegurada até 1992 – em 30 anos de coluna assinada. Em 67 e 68 ocupou a Editora de Educação, também em O Fluminense. Entre 1973 e 1975 exerceu a assessoria de imprensa do Departamento Estadual de Ensino Médio da SEEC-RJ.
A Seleção de Crônicas do “Diário sem data” resultou no livro Niterói de Badezir, edição da autora, publicado em 1967. Com a fusão RJ/GB foi lotada no Departamento Estadual de Cultura onde, sob direção de Paulo Afonso Grisoli, participou do programa de interiorização da cultura – os Pacotes Culturais – que percorriam os municípios levando música, dança e teatro eruditos, associados à apresentações de manifestações de cultura popular, sempre com participação de bandas civis locais.
Dentro dessa programação organizou e apresentou o I Encontro de Bandas de Músicas Civis que reuniu 71 bandas. Os Encontros mantiveram-se vivos por anos, servindo eficazmente à revitalização das corporações musicais e encontrando êmulos em diversos Estados brasileiros. O Encontro de Folias de Reis que organizou e realizou pela primeira vez em 1975, no município de Duas Barras, perenizou-se igualmente, e se reúne todos os anos, em janeiro, algumas dezenas de folias, em presença de público cada vez mais numeroso.
Para o Departamento Estadual de Cultura programou ainda, e realizou, em 1976 e 1977, pesquisa sobre o artesanato tradicional e o folclore fluminense, abrangendo 17 municípios, representativos da realidade cultural e geográfica do Estado. Foram gravados depoimentos dos artesãos e praticantes dos folguedos, e fotografados, tanto os depoentes quanto as manifestações folclóricas. Nessa empreitada contou com a colaboração de Luís Antônio Pimentel, Jorge Sinito de Vives e Zalmir Gonçalves que, como fotógrafos, fixaram a memória de um Estado surpreendente para os próprios fluminenses e desconhecido para a maioria dos brasileiros. Os dados recolhidos em pesquisa resultaram no livro O Homem Fluminense, editado em 1978 pela fundação Estadual de Museus. Durante sua elaboração atuou como Diretora-Adjunta do Museu de Artes e Tradições Populares.
Quanto aos objetos recolhidos durante a pesquisa, testemunhos concretos de artesanato tradicional fluminense, foram reunidos na exposição As Mãos do Povo apresentada em Niterói, no mesmo museu. A mostra circulou, depois, por vários municípios. Aposentando-se do serviço público manteve atividade jornalística e iniciou produção literária, com o romance “Descobertas e extravios, 1997”, história baseada na lenda fluminense da Mão de Luva. (...) a aposentadoria a afastou de seu convívio com Niterói: mas continuava a sentir-se verdadeira niteroiense, membro da Academia Fluminense de Letras e Academia Niteroiense de Letras, e cidadã niteroiense honorária, além de detentora da Comenda Araribóia.



Sávio Soares de Sousa - escritor
orador oficial que fez a homenagem à Vera de Vives


Jorge Sirito de Vives (esposo de Vera de Vives)
(aqui ao lado da foto de Vera)


Márcia Pessanha
feliz com a homenagem à Acadêmica

Leda Mendes Jorge
Presidente da ANE(Academia Niteroiense de Escritores)
esteve presente ao evento.

O livreiro Carlos Mônaco
aqui atento ao que Sávio Soares fala


Wanderlino Teixeira Neto
fez uma homenagem à Vera de Vives
leu o texto intitulado
TRIBUTO A VERA DE VIVES


A escritora Edel Costa
homenageou Vera de Vives com o texto
O COTIDIANO INSÍPIDO

Gilson Rolim - escritor
também falou sobre Vera de Vives



Mariana de Vives(neta de Vera de Vives)
falou emocionada sobre a avó

Jorge Sirito de Vives

Aldo Pessanha - ativista cultural
esteve presente ao evento

Dr Jorge Loretti, Mariana de Vives,
Jorge Sirito de Vives
e Márcia Pessanha
posam em frente ao quadro com a foto de Vera de Vives

Livros de Vera de Vives
Niterói de Badezir
e o livro infantil O DIA DO ARCO ÍRIS


PENSAMENTO DE VERA DE VIVES

“QUE EU SEJA na morte em repouso. E possam rosas vir de meus lábios e de meus olhos a luz dos mortos, fosforescência.
PEÇO A SOBREVIVÊNCIA de rebrotar do chão como uma planta. Que eu seja contigo na relva que pisares, pois será meu corpo, decomposto e renascido.
PEÇO O CONFORTO de pensar que te hei querido, muito e muito, muito e sempre, como às coisas mais amadas e mais queridas.
QUE DURMA SOB minhas pálpebras descidas a saudade longa das paisagens conhecidas; e que o amor de quantos hei amado durma comigo, como em um ninho, dentro de meu coração parado.”
(VIVES, Vera de. Na morte. In: Niterói de Badezir. Niterói: s/ed., 2011. p.127)
Alberto Araújo e Sávio Soares de Sousa

Alberto Araújo e Mariana de Vives

Esta foto é histórica, uma verdadeira relíquia...
aqui Vera de Vives recebendo autográfo
do filósofo Roberto Kahlmeyer-Mertens
no Calçadão da Cultura da Livraria Ideal
(cedida gentilmente pelo Roberto Kahlmeyer)



***



Escrevi para Joseph Abraham Levi, ele me autorizou publicar essa recensão sobre o trabalho de Vera de Vives


 Hispania 82 4 12 (1999): 786-787
Vives, Vera de. Descobertos e Extravios. História de Maria Mão de Luva. Rio de Janeiro: Editora Record, 1997. ISBN 85-01-04603- 5. 416 pp.

Obra precedida por Niterói de Badezir, Crônicas, (1970), um disco — o Folclore fluminense O homem fluminense (1977), e três livros infantis, Descobertos e Extravios, seu primeiro romance, mostra o interesse da autora no folclore e, mormente, no ser humano, onde ficção e pura fantasia se unem, aliás, feliz e talentosamente, a fatos e eventos históricos a irmanar um país e a sua colônia, essa última à beira da independência (1822; 1889). A narração começa in media res. Estamos perante as consequências da Conspiração dos Távora (3/9/1758), e o resultante atentado contra El rei D. José I (1714-77), a regressar dum encontro amoroso com D. Teresa Távora; porém, mais do que um crime passional, o atentado parece ser um ataque ao despotismo do Marques de Pombal (1699- 1782). Em 1759, um julgamento sumário incriminou nobres, Jesuítas e plebeus. Protagonista principal é Manuel Henriques, Marquês de Santo Tirso, alcunhado Mão de Luva, o qual, mesmo não querendo, atentou ao rei. Acusado de lesa-majestade o réu com certeza era destinado à morte. Porém, dada a forte atração entre o jovem e a futura rainha D. Maria I (1734- 1816), a sua pena foi transmudada ao confino perpétuo in terra brasiliensis. Contudo, o preço a pagar era alto, não só a distância do seu amado Manuel, mas também — forçado-lhe pelo Marquês de Pombal — o casamento, em 1760, com o seu tio, o príncipe D. Pedro III, (1717-86). No último adeus dos dois nunca-amantes Maria beijou-lhe a mão direita, daí a resolução da luva. Em 1777, por morte de D. José I (1714-77), D. Maria subiu ao trono. No entanto, desterrado no Brasil, Manuel Henriques conseguiu construir-se uma nova vida, onde respeito e fidelidade eram a base da sua comunidade bandoleira, constituída por um povo muito heterogêneo, uma" irmandade sem hierarquias […] de peles acobreadas, negras ou brancas" (241). Entrelaçadas na narração encontramos inúmeras referências à situação politico-hist6rica do período: o contrabando de ouro e pedras preciosas; a dependência econômica luso-brasileira da Inglaterra; os ideais de liberdade — desde os modelos norte-americano e, em particular, brasileiro, nomeadamente a Inconfidência Mineira e Tiradentes (1789), à revolução francesa (1789); à incipiente Maçonaria; às intrigas de Corte; à invasão napoleônica (1807), e, por fim, à Coroa a ser trasladada além-mar (1808). Aparecem alusões à escravidão, à inevitável mestiçagem das raças, aos quilombos, às várias Irmandades afro-brasileiras e, por fim, à quotidiana humilhação das pessoas de cor, as quais tinham como seu único escape a religião.
Obviamente em forma sincrética. Numa terra rica e promissora como o Brasil, era normal que muitos quisessem enriquecer, dando-se ao garimpo e a ações pouco lícitas. Além dos foragidos encontramos aqueles que foram 1á de livre vontade, em busca de rápida fortuna. O desejo de Mão de Luva era reconquistar nome e prosperidade. Uma vez rico, sabia que o dinheiro o podia reabilitar aos olhos da sociedade e, mormente, da sua amada Maria. Todavia, com o passar dos anos Mão de Luva não queria voltar mais a Portugal, julgando que a sua Maria se tivesse se esquecido dele. Na verdade, em 1781, a rainha ordenou a revisão do processo e o Manuel foi chamado de volta ao Reino, porém as expedições à sua procura resultaram negativas. A rainha nunca deixou de amá-lo. Aos poucos observamos os primeiros sinais da sua loucura: o fato de escutar vozes, os sempre crescentes pesadelos, a obsessão pelo seu adultério — se não in carme, pelo menos in pectore — as alucinações e as muitas visões de demônios. Em 1785, durante a administração do vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa (1779-90), mineiros e cariocas juntaram-se para combater o bando de contrabandistas chefiado por Mão de Luva o qual, para evitar inúteis estragos de vidas, se entregou às autoridades. Aprisionado, revelou, sem ser acreditado, a sua origem nobre. Finalmente, o ouro foi confiscado e três acampamentos foram destruídos. Porém mais de trinta membros conseguiram fugir. Infelizmente o Marquês de Santo Tirso, oficialmente considerado demente, morreu a bordo do Maria da Glória, um Galeno negreiro que o transbordava à África ao degredo. Com as notícias da derrota de Napoleão e do seu desterro (1815), lemos que, a Maria I, "em madrugada clara de outono" veio-lhe a morte (409). Ironia da sorte, ambos os amantes morreram com fama de loucura. Num estilo claro e numa prosa lúcida e cativante, o cálamo de Vera de Vives consegue oferecer-nos um quadro das duas sociedades atlânticas e, em particular, dá-nos uma excelente exposição da psique de Maria I e de Mão de Luva. O verdadeiro sucesso da autora é, portanto, a não fácil reprodução da crescente agonia da rainha e a descrição do lado mais recôndito do bandoleiro Manuel, ou seja, a sua sincera humanidade. Historicamente bem pesquisado, Descobertos e Extravios é, enfim, um ótimo e indispensável instrumento para as nossas aulas de cultura e civilização luso-brasileira.
Joseph Abraham Levi
University of Iowa (1994-2001)
Rhode Island College (2001-2008)

The University of Hong Kong/Universidade de São José, Macau (2008-2010)

The George Washington University (2010-)
e-mail: josephlevi@hotmail.com

autorização:
"Querido Alberto, olá, muito bom dia! Obrigado pelo seu interesse. Terei muito gosto em ver a recensão no seu blogue. Conte comigo sempre. Estou aqui sempre a promover a nossa língua e todas as culturas lusófonas.
Um grande abraço,
Joseph Abraham


Resposta:

Obrigado caro Joseph, pela a sua atenção, seu trabalho está publicado.
 - abraços   ALBERTO ARAÚJO



Alberto Araújo - mediador do FOCUS



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2 comentários:

  1. Prezado Alberto,

    Nunca é demais lembrar de gente grande como Vera de Vives.
    Grande em importância, em inteligência, em generosidade...
    Quando eu cheguei no meio literário de Niterói, foi ela A PRIMEIRA que, pouco me conhecendo, me deu a mão e me guiou nos primeiros passos.

    Sou muito agradecido e admirador dela.
    Roberto

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  2. Caramba, esta foto da Vera de Vives no Calçadão da Cultura é uma raridade mesmo!

    Que ano seria isso?

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