11 de abril de 2012

LIVRO DO DESASSOSSEGO DE FERNANDO PESSOA NO CLUBE DE LEITURA DE ICARAÍ

O LIVRO DO DESASSOSSEGO
DE FERNANDO PESSOA
NO CLUBE DE LEITURA DE ICARAÍ


Este é o livro que será lido pelos participantes
do Clube de Leitura da Icaraí
e o debate será dia 13 de abril de 2012
na Livraria Icaraí
Rua Miguel de Frias, 09 - Icaraí - Niterói - RJ
das 19 às 21 horas

Entrada Gratuita



POEMA DO DESASSOSSEGO




Quanto desassossego no mundo
por conta do outro não me aceitar
como sou ou como penso que sou,
múltiplo como as cores,
infinito como os números,
impreciso como as certezas.

Quanto desassossego no mundo
por eu não me aceitar
como sou ou como penso que sou
e querer sempre ser o que não sou
ou mesmo o que já fui
quando não sabia que era.

Quanto desassossego no mundo
por conta de eu não aceitar o outro
em suas perfeitas imperfeições
de artista, aprendiz e fazedor,
forjador de si, realizador do outro,
sonhador de todas as utopias
em sua condição de humano.

Quanto desassossego no mundo
por conta do outro não aceitar o outro
como não aceita a mim,
que tampouco aceito o outro
do outro que há em mim.

É nostalgia, é tristeza, é amargor
de beber dessa água que nunca
mata a sede que tenho
de aprovação dentro de mim.

Sou estranho, frágil sim,
me escondo atrás das palavras,
as mesmas que uso para expressar-me,
oh ironia, mostrar para esconder,
viver para sofrer...

Quero jogar fora a vergonha,
da humilhação não quero saber,
posso ser qualquer Maria ou qualquer José
superar minha própria insensatez,
da dicotomia do mundo
não ser mais vítima nem algoz.

Quero reinventar a máquina fotográfica
só para revelar-me por inteiro,
um slide da minha alma de cancioneiro
sempre em busca das ilusões perdidas.

Guardar minhas justas fotos,
sem cadeados, à vista do mundo
que não conhece o tesouro
de paz que hoje guardo fora de mim.

Não tenho forma, sigo sem molde
e é debalde que me tentam enquadrar,
vou como a água, penetrando em lugares...
onde nada mais cabia, caibo eu

mas também não tenho rumo,
não me aprumo nem me vejo
nos espelhos que criamos,
há muita insatisfação...
Assim, sou só reflexo, desconexo,
do que seria o existir.


 FRASES DE FERNANDO PESSOA


Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso -- em suma, é a nós mesmos -- que amamos.



Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho.

A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos.

A minha vida é como se me batessem com ela.
A solidão desola-me; a companhia oprime-me.

A vida é um novelo que alguém emaranhou.


A superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador extrai da vida um prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de ação. Em melhores e mais diretas palavras, o sonhador é que é o homem de ação.
 
A minha alegria é tão dolorosa como a minha dor.
A natureza é a diferença entre a alma e Deus.


A liberdade é a possibilidade do isolamento.
 
A beleza de um corpo nu só o sentem as raças vestidas.

"Tudo o que dorme é criança de novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se não dá conta da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta é sagrado, por uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma criança não conheço diferença que se sinta."

Fernando Pessoa, Livro do desassossego


O narrador principal das centenas de fragmentos que compõem este livro é o 'semi-heterônimo' Bernardo Soares. Ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, ele escreve sua 'autobiografia sem factos', sem encadeamento narrativo claro e sem uma noção de tempo definida. Ainda assim, foi nesta obra que Fernando Pessoa mais se aproximou do gênero romance. Os temas, adequados a um diário íntimo, são permeados pelo tom de uma intimidade que nunca encontrará ponto de repouso. Na prosa metódica do 'Livro do desassossego', Pessoa criou um mundo; e nele faz fluir todas as suas perspectivas poéticas.
Fernando Pessoa

Fernando António Nogueira Pessoa - Nasceu em Lisboa, 13 de Junho de 1888 — faleceu em  Lisboa, 30 de Novembro de 1935, mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.
É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".
Por ter sido educado na África do Sul, para onde foi aos seis anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu perfeitamente o inglês, língua em que escreveu poesia e prosa desde a adolescência. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa traduziu várias obras inglesas para português e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto e Almada Negreiros) para inglês.
Ao longo da vida trabalhou em várias firmas comerciais de Lisboa como correspondente de língua inglesa e francesa. Foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária em verso e em prosa. Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objeto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. Centro irradiador da heteronímia, auto-denominou-se um "drama em gente".
Mais informações Acesse o blog do clube de leitura

 

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